Alma em Lisboa
"Alma", uma peça do escritor israelita Joshua
Sobol, é a história de Alma Mahler-Werfel, a
famosa femme fatale e musa de muitos génios
da sua época. Foi mulher do compositor Gustav Mahler,
casada depois com o arquitecto Walter Gropius e o poeta Franz
Werfel (A Canção de Bernardete, "Jakobowsky
e o Colonel"). Também teve fervorosos casos de
amor com os pintores Oskar Kokoschka, Gustav Klimt, e vários
outros, juntando alguns dos espíritos mais criativos
do séc. XX.
A originalidade da peça é que não é
representada no palco de um teatro mas sim num edifício
completo, totalmente equipado com mobiliário e adereços
que são semelhantes ao local da cena de um filme. Vários
episódios da vida de Alma são representados
em simultâneo, em todas as salas e pisos do edifício.
Cada um tem de escolher os acontecimentos, o caminho e a pessoa
que deseja conhecer, construindo a própria versão
de um "Polidrama". Convida-se os visitantes a abandonar
a posição imóvel do espectador num drama
convencional, e a substituí-la pelo papel activo de
um viajante. Serão espectadores de uma viagem
encenada".
Quando Gustav Mahler morre a meio da peça, o banquete
do seu funeral pode ser interactivamente seguido pela música
e os espectadores são em seguida convidados para um
jantar-buffet sumptuoso, durante o intervalo, com especialidades
austríacas, doces e um vinho especial Alma, sendo tudo
incluído no preço do bilhete.
A produção alemã da peça para
a Semana do Festival de Viena esteve em cena em Viena durante
seis semanas e foi um sucesso tão estrondoso que a
ideia surgiu de a levar a outra cidade e, no Verão
passado, a produção foi para Veneza, onde Alma
passou vinte anos da sua vida. O enorme sucesso internacional
de "Alma a Venezia" encorajou-nos a trazê-la
a Lisboa, o lugar onde Alma teve uma curta estadia em 1940,
juntamente com o seu terceiro marido, o escritor judeu Franz
Werfel, quando a França se rendeu ao exército
alemão.
Os Werfel fugiram de Viena em 1938 para França, quando
a Áustria caiu sob o exército alemão.
Em 1940, os Werfel, acompanhados por Heinrich Mann e o seu
sobrinho Golo Mann, Alfred Döblin, escaparam a pé
pelos acidentados Pirinéus até Espanha, saindo
finalmente da Europa em direcção aos Estados
Unidos, a bordo do Nea Hellas, o último navio de carreira
que saiu de Lisboa. Lisboa significou a salvação
para eles. Não houve país que tenha ajudado
mais refugiados do que Portugal naqueles dias dramáticos.
Esse país pequeno tornou-se na passagem de muitos refugiados
famosos como Heinrich Mann, Lion Feuchtwanger, Alfred Döblin
e Franz Werfel. Na sua autobiografia Alma escreveu: "Nunca
esquecerei aqueles dias de paz paradisíaca num país
paradisíaco, depois do tormento dos meses anteriores!"
Uma parte importante desta história foi atribuída
ao cônsul-geral Aristides de Sousa Mendes, encarregado
do Consulado Português em Bordéus em 1940. Quando
a história o catapultou, de um dia para o outro, a
assumir a custódia de vidas humanas suspensas no prato
da balança, ele provou ser ainda muito mais. Passou
vistos de trânsito para entrada em Portugal a um número
surpreendente de cerca de 30.000 refugiados, e abriu uma rota
de fuga a refugiados para quem mais nada existia. Rebelou-se
contra as ordens de serviço e usou o seu escritório
para as ignorar a favor da humanidade.
O espectáculo "Alma" terá lugar em
Lisboa de 12 de Setembro a Outubro de 2003, no Convento dos
Inglesinhos no Bairro Alto, em Lisboa.
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